245/2019 BACURAU

Pelo amor dos Deuses do cinema, de Nelson Pereira Santos, de Glauber, de Hitchcock, de Billy Wilder, vá assistir Bacurau.

Nunca te pedi nada!

Tudo o que eu disser do filme vai ser irrelevante se você ainda não tiver assistido esse que é o filme brasileiro mais importante desde Cidade De Deus.

Bacurau é um acontecimento fílmico, um petardo, um absurdo.

É mais um filme do Kleber Mendonça Filho falando de pessoas do mal querendo (e neste caso conseguindo) destruir algum lugar.

Já foi o prédio de Aquarius, o bairro de O Som Ao Redor e agora é a vila de Bacurau, no sertão nordestino, que literalmente sai do mapa.

Bacurau é desses filmes que cria um universo tão poderoso, com personagens tão absurdos, cenas tão icônicas, tapa na cara atrás de tapa na cara e com um final tão lindo que se não fosse feito, seria uma daquelas pérolas que ficam em exposição na biblioteca de Sandman, das vontades e dos sonhos não realizados.

Bacurau confirma Kleber e agora Juliano Dornelles, como os diretores a serem stalkeados de pertinho daqui pra frente.

Mas a grande coisa de Bacurau pra mim é seu elenco.

Primeiro: Silvero Pereira é Deux. Esse cara, essa mina, é algo de outro mundo.

Lunga é a melhor personagem do cinema de 2019. Sua primeira cena, um close de sua unha pintada de preto passando em volta de seu olho é de uma lindeza de outro planeta.

Segundo: Sonia Braga. Ouso em dizer que Domingas seja a melhor personagem da carreira de Sonia Braga, que começa como a bêbada que dá vexame em funeral e termina como a médica sábia do vilarejo.

Terceiro: Udo Kier. O alemão viveu todos os seus mais de 100 personagens no cinema para chegar ao ápice com Michael, o filhadaputa.

A Teresa de Barbara Colen, a atriz fetiche de Kleber, tem uma das falas mais icônicas do filme quando chama o matador Pacote (de um gigante Thomas Aquino) para dormir com ela na noite do enterro de sua avó quando ele lhe pergunta se ela não está de luto e ela dá uma resposta absolutamente inesperada.

Os “gringos” Karina Teles e Antonio Saboia representam uma naturalidade que não existe no filme, a naturalidade dos que chegam pra matar… com naturalidade. A naturalidade do bandido brasileiro, do miliciano, que espanta até os gringos que lá estão também pra matar. Os dois parecem saídos de uma novela da Globo se na novela tivessem matadores de aluguel convivendo com o povo normal. Ops.

Agora, o melhor personagem pra mim é o negro velho que vive pelado em casa com sua mulher, cuidando de suas ervas e com sua carabina de atirar de lado a postos pra o que der e vier.

Esse é o cara que dá a sementinha pro povo de Bacurau, o povo “muito louco de um psicotrópico potente” como dizem lá no auge do filme que por causa da sementinha, se protege, se une, se esconde, agita, agiliza, se mobiliza de verdade e coloca ordem na putaria toda.

Dizem das metáforas de Bacurau, mas elas não existem. Tudo é na cara, aberto, sem firulas, para que todo mundo entenda de cara, sem nem que se precise pensar muito, tipo dando uma ajudazinha aos incautos.

Bacurau é um faroeste de cangaceiro, com tudo de melhor que os cangaceiros nos ensinaram, que se passa daqui uns anos que mais parecem logo ontem, de tão atrasado e estúpido que o futuro tem sido.

Bacurau mostra que o futuro dos drones discos voadores potentes não adiantam de nada porque o que salva, como sempre, é o psicotrópico potente do velho curandeiro da vila.

NOTA: 🎬🎬🎬🎬🎬