232/2019 ROSIE

Eu ia falar do Tarantino hoje, mas como é meu aniversário, prefiro comemorar com um #AlertaFilmão.

Rosie é desses filmes pequenos que voam abaixo do radar mas que quando a gente descobre é uma felicidade imensa.

Este filminho irlandês é daqueles socos no estômago que a gente nem sabe de onde veio.

Rosie é uma mulher casada e que com seus 4 filhos pequenos que vivem no seu carro.

Sim, Rosie e sua família não tem onde morar já que não tiveram o contrato de aluguel renovado, de sua casa onde viveram os últimos 7 anos.

E como dizem no início do filme, a Irlanda está vivendo uma crise de moradia, os aluguéis que eram razoáveis e que existiam, já não existem mais e os que existem estão custando os olhos das caras das famílias inteiras.

Rosie e sua família passam o dia procurando quartos em hotéis para passarem a noite, pelo menos. E não encontram.

A situação é tão caótica que as prefeituras das cidades irlandeses fornecem cartões de créditos para as famílias pagarem essas estadias em hotéis.

Só que os hotéis não são suficientes para a demanda fora de controle.

A situação é tão doida que, como Rosie diz no filme, a família tem emprego, tem dinheiro, mas não tem casa para morar, mesmo pagando.

E ela não aceita ser uma sem teto, exatamente por isso. Ela tem condições, não tem oportunidade.

O filme do diretor Paddy Breathnach nos coloca dentro do carro de Rosie, dentro do banheiro quando ela escova os dentes em uma lanchonete, ao lado dela o tempo todo.

Por isso mesmo eu ficava esperando uma desgraça acontecer, de tão íntimo que me sentia de todo mundo ali.

Só que a desgraça já estava acontecendo. E a gente ali dentro compartilhando esses momentos horrendos.

Uma vez meu psiquiatra me perguntou qual era o meu maior medo e eu disse que não ter onde morar.

Rosie, o filme e a personagem, nos mostram que apesar de todos os pesares o que sempre nos resta no final é a força e a esperança.

Rosie a personagem é uma das grandes mulheres que vi em filmes em 2019. E olha que esse ano tá bem de personagens femininas. Ela é a estrutura da família que está quase se quebrando, mas ela vai lá e junta tudo, cola com amor, se segura, é fiel a seus princípios e torce pra que tudo aconteça.

Rosie o filme é um alento, mais um, num ano bom e também numa fase boa de filmes bons, que conta uma daquelas histórias bem lindas, pesada sim, mas necessária, que mostra os efeitos da desgraceira que está acontecendo pelo planeta e que quando menos esperarmos, capaz de bater à nossa porta.

Baseado no livro homônimo do grande escritor irlandês Roddy Doyle, Rosie, como ele mesmo diz, é baseado em várias histórias reais.

Eu não esperava de Rosie o filme político que é, acho que na verdade nem o diretor esperava tanto, já que a sutileza com que ele conduz a história da família que se ama mas que não tem onde morar, das crianças que não sabem o que vão fazer quando saírem da escola, do pai desesperado que dorme ao relento para não incomodar seus filhos dentro do carro, da mãe que chora sozinha na rua para seus filhos não perceberem que ela também está fragilizada.

Rosie é um filme obrigatório pela força, pela porrada no estômago, pela “abrida” de olhos e pelo casal de atores principal que me fez acreditar que aquilo tudo era real e possível: Sarah Greene é a Rosie perfeita e Moe Dunford, seu marido fofo John Paul.

NOTA: 🎬🎬🎬🎬🎬