258/365 MANDY

Vou tentar explicar quanto Mandy é maravilhoso através de referências.

Mandy é um filme de vingança, onde um cara faz de tudo pra encontrar e matar os caras que mataram sua esposa na sua frente.

De Charles Bronson a Bruce Willis os filmes de vingança são sempre os mesmos. Então fique com um desses na cabeça.

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Só que Mandy tem a vibe e o ritmo e a placidez de um filme iraniano, ou japonês dos anos 90, onde tudo é lento, tudo é fluido, onde você parece estar sob efeito de uma maconha muito forte, muito boa.

Ou talvez Mandy tenha a vibe psicodélica linda de Aniquilação, estranho, doido, como a gente tanto gosta.

Só que Mandy tem monstros. Monstros que poderiam ser primos dos cenobitas de Hellraiser, filhotes de uma mente tão doentia quanto a de Clive Barker.

E Mandy também tem monstros da vida real, um culto religioso do mal, que só existe nos EUA. Só que imagine esse culto com um líder doido e seus discípulos piores ainda, saídos do Twin Peaks, se o Lynch fizesse uma versão religiosa.

E Mandy também tem a direção de fotografia mais linda do ano. Ousada, com muito flair, muita luz entrando na câmera, muita luz colorida vinda sabe-se lá de onde, já que o filme todo se passa em uma floresta. Culpa do fodão do Benjamin Loeb.

Mandy tem (provavelmente) a última trilha sonora do Deus Johann Johannsson, morto este ano, que já faz muita  falta e que, por essa trilha, me deixa ainda com mais dor no coração.

Mandy foi escrito e dirigido por um dos caras que eu mais admiro e amo no cinema atual, Panos Cosmatos, um cara que só tinha feito um filme em 2010, Além do Arco Íris Negro e que, graças aos deuses do cinema, agora nos deu essa pérola dos infernos.

Último detalhe, e talvez o mais absurdo de todos de Mandy: o filme é estrelado por Nicolas Cage.

Cataploft.

O cara é o lenhador metaleiro barbudo, fofo e pacifista, que mora no meio da floresta com Mandy, sua esposa metaleira do bem.

Um dia, Mandy está andando para sua casa quando o líder do tal culto, louco de um LSD “envenenado”, a vê e exige que seus seguidores idiotas a tragam para que ele faça o que quiser com ela.

Sim, o tal líder é um débil mental típico líder de culto, que apesar de não ter uma barba branca e não ser careca, faz o que quer, como quer e quando quer, como qualquer Prem Baba da vida.

Os caras a sequestram, ele obviamente abusa como pode dela e como é um doido, mata Mandy em frente do marido sem dó nem piedade, da forma mais cruel dos últimos tempos. Claro que o marido está preso a uma parede, preso por arames farpados que cortam seus pulsos, sua testa, o corpo todo, inclusive sua boca.

Ah, esqueci de um detalhe: o doido do líder pede ajuda aos tais monstros primos dos cenobitas para capturar Mandy e claro, os caras o ajudam na hora do abuso e de sua morte.

Os monstros são versões meio realistas de cenobitas, que andam de moto à noite no meio da floresta e se escondem durante o dia. Monstros de verdade.

O problema todo é que ninguém nunca conta com um marido que se alimenta do ódio depois de passar por uma coisa dessas, arruma forças não sei de onde (quer dizer, dá pra ver do filme de onde), consegue escapar do arame farpado e vai pras cabeças.

Literalmente.

Mandy talvez seja o melhor filme de Nicolas Cage, melhor até que Despedida em Las Vegas, estilisticamente falando e também por um motivo bem peculiar: Cage deve ter umas 15 linhas de diálogo o filme inteiro.

E Mandy tem mais de 2h de duração.

Depois de tudo isso, depois de toda essa ação misturada a esse filme de terror cruel, com o ritmo iraniano, com tudo o que eu falei, depois de tudo isso se você acha que o diretor Cosmatos relaxou em qualquer cena do filme, você se engana.

O cara começa o filme lindamente e não deixa a peteca cair, vai até o final com cenas lindas, bem enquadradas, bem dirigidas e o melhor, com cenas absurdamente iluminadas.

Tem uma sequência de uma moto andando por uma estradinha no meio da floresta, com luzes vermelhas e amarelas iluminando as árvores que é de deixar qualquer um embasbacado.

Mandy é um dos filmes mais violentos de 2018 e mesmo assim, você não consegue ficar de olhos fechados vendo o que vai acontecendo à medida que o ódio, as drogas e muito mais vão tomando conta dos personagens.

Esqueci de falar, Mandy é tomado por drogas, do LSD mais forte e mais detonado de todos, passando por muita cocaína que o personagem de Cage cheira da forma mais punk dos últimos tempos, até um treco que os caras tomam com os monstros que eu fiquei com medo de saber o que era.

Fico pensando o porquê do diretor Cosmatos não fazer mais filmes, já que ele é um belo de um diretor, iconoclasta, referencial, detalhista. E chego à conclusão que se ele precisar de outros 10 anos para fazer outra obra prima como Mandy, eu vou esperar em pé, excitado e com os dedos cruzados.

Pelo que vi, o filme ainda não foi comprado para passar por aqui, então clique aqui para um link do filme.

NOTA: 🎬🎬🎬🎬🎬

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